Textos, contextos, momentos, sonhos e realidade. Blog criado para transcrever os posts que por algum motivo esquecemos de publicar na nossa vida.
P.S.: Baseado em fatos reais e/ou em fições.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Há vezes em que nossos corações maduros - a parte de nós que não nos cabe neste momento - nos cochicham íntimos segredos e sabedorias profundas. Por vezes não temos coragem de recebê-los, e continuamos, até nos depararmos com a realidade novamente. Esse "continuar" nos aparenta comodidade. Creio que, de certa maneira, em algum momento, acabamos por perceber, então, que escondemos nossos corações maduros para alimentarmos sem preucações nossas incertezas e fragilidades.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Estou de volta, depois de um bom tempo. Como é de costume, por necessidade:
Por que é que as pessoas não acreditam que a gente pode ser feliz sem motivo e chorar sem necessidade? É difícil confiar que o sujeito possui sentimentos que de vez em quando aflooram e tomam conta da emoção, e não os compreendemos? Será que é condenável sentir medo da vida? Medo de estar fazendo tudo errado, de estar arriscando sem objetivo, de se perder nas consequencias... São os "ataques" efusivos de muito medo e grandes alegrias que - também - me fazem crescer. Não sinto vergonha de admitir minhas fraquezas, tampouco de trazer a felicidade em pequenos gestos e movimentos [é fácil dizer isso, difícil é lutar com as exceções e chegar às certezas]. Não gosto é da condenação à subjetividade. É tão incomum não vermos razão ou sentido ao que fazemos? Não quero ser a única. Também não quero ser a única a me importar com o outro, a querer justiça, compreensão, diálogo, indignação com o mal, vontade de mudar! Não quero acreditar em quem não se comove com o que há de ruim, com quem tampa os ouvidos com tinta para não ouvir que se acomoda com a realidade em que vive e que não confia no seu potencial e no dos outros. Que o trabalho não seja motivo somente de realização pessoal/profissional, e que possamos viver com um objetivo de vida, mesmo que não saibamos exatamente desde o início onde é que queremos chegar. O ponto de chegada é só uma consequencia, por mais tosco que isso tudo possa parecer.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Noite adentro

Quando vou dormir, deito-me apenas para aliviar meus olhos e sossegar o corpo. Estou cansada de tanto tentar me concentrar no sentimento leve dos sonhos. O sono já não é mais meu. Sinto que querem roubar minha sensatez; que me forçam a continuar atenta, abobada e desperta. Não quero mais minha liberdade, quero os meus sonhos e minhas palavras de volta.
Enquanto isso eu continuo a tentar. De certa forma é bom se deparar com essa lucidez, embriaguez e parcialidade. Fico um pouco protegida. Forço-me, e cada vez mais me apago com essa languidez dos pensamentos mais íntimos e secretos que continuam grudados a mim noite adentro.

domingo, 29 de agosto de 2010

Inspiração

De repente sentira uma nuvem tênue e concreta de inspiração bem pesada baixar sobre sua mente. Naquele momento, as coisas lhe pareceram mais facilmente descritíveis. O que atrapalhava agora era a música – a batida regular que continha a certeza do próximo som monótono da lista. O resto, ali, já não importava mais. A procura incessante pela freqüência que resumisse todos aqueles sentimentos era coisa do passado. Agora era somente o fato que, por ser tão importante e trazer certa carga de culpa, acaba esquecido.
Chegara à conclusão de que, temporariamente, satisfatoriamente e preferencialmente, vamos escondendo nossos desejos e anseios para aliviarmos a dor do incompreensível; vamos nos acostumando, perdendo-nos dentro das nossas incongruências.

Não conseguia mais encontrar advérbios que iniciassem aquela descrição. Era sempre igual o jeito como iniciava algo novo. Tudo era o mesmo: total ou parcial cópia de seus próprios instintos culposos. Queria ir além, mas quando se dava conta de sua real condição, já sentia a sensação de tensão inflamada sobre as bochechas e aquela vontade de chorar.

sábado, 3 de julho de 2010

Imagem

A noite se desenhava cálida, morna, serena.
Se abrisse a janela àquela hora, ela sabia que sentiria tudo aquilo mais uma vez. Mesmo assim, ela gostava de olhar a sombra dos galhos finos da pitangueira que encobriam a lua nova. Aquilo formava um cenário de noites em que o frescor do ar parecia animar os navegantes por ali. Aquela imagem formava uma fotografia incompleta, daquelas que seriam ideais com os possíveis outros sentidos.

Um dia ela soube que ouvir os outros e suas histórias fazia com que sua vida fosse uma concepção de todos aqueles personagens, juntos. Pertencer vagamente ao seu mundo tornava-a processante. Era como se fizesse parte de todas as realidades ao mesmo tempo, podendo compreender a tudo e a todos.
Não desejava nem amava ninguém. Como podia? Tinha uma especial admiração por cada um daqueles homens. Mais ou menos como acontecia com o Mundo, ela acreditava que se não amasse ninguém em especial, poderia sentir aquilo por todos, ao mesmo tempo.
É por isso que de alguma forma ou outra sempre se pegava caracterizando as pessoas que entravam em sua vida como faz o escritor com seus personagens. Às vezes, mais do que tudo, ela queria ser aprisionada por um eu - lírico; saber como ele enxergaria suas mágoas, suas ambições, e idealizá-la ou reprimi-la, ali, seria como voar para bem longe daquele lugar.
Ela não queria admitir. Tentei, então, entrar por ali, e acabei por tornar-me mais uma refém de suas histórias.
Via-se, assim, uma fingidora de suas qualidades e anseios, que serviam apenas para os momentos da emoção...

sábado, 26 de junho de 2010

Eu havia esperado aquele tempo todo!
Tinha medo de começar algo suscetível à mudança, à brusca ilusão de ser. Não tinha muita certeza nas palavras. Elas pareciam não gostar daquele jogo.
E eu, ali, imóvel, ainda aguardava inutilmente o disco rodar. Queria ouvir, mesmo que fosse pela penúltima vez, a música ideal sussurrar-me perguntas incrédulas. Estava atenta a cada movimento, a cada esboço de ruído que eu sentia perpassar ao meu lado, em forma de rodeios. Estava consciente, agora, de que nunca mais conseguiria transpor minhas idéias e sentimentos.
Algo estava no lugar errado. Toda narrativa se resumia ao mesmo movimento. Os outros me causavam uma sensação lúgubre de insensatez;
De alguma forma, é provável que eu soubesse tudo sobre aquela história.

O fato é que eu mesma já me estranhava. Isso se dava sempre com o outro. Queria poder experimentar cores novas, modelos combinatórios, pessoas certas, coerências realistas, essência, de verdade. Mas agora aquilo não funcionava mais com as simples palavras. E sobre isso eu ainda não sabia. Aliás, alguém teve a coragem de trazer-me a resposta quando aquela aurora lúgubre já havia retornado. Não bastava pensar que era tarde demais, pois os olhos verdes já faziam parte de mim. Olhando daqui, sei que minha alma tinha a doce ilusão de ter esperado novamente aquele tempo todo.


Não existia explicação a mais nada por ali.

domingo, 13 de junho de 2010

Amor

Àquela hora da noite todas as estrelas já cintilavam com o brilho mais intenso; todas as apreensões cotidianas haviam sido guardadas; Era a hora dos sonhos, dos desenhos incolores, dos dissabores, das auroras e crepúsculos; Notava-se a presença dos amores, cenas e poses que transbordavam e se transmitiam através do tempo. O som que se ouvia já não era aquele pesadelo, aquela insanidade, um desejo de libertação, vertigem. Agora as vibrações combinavam e se confundiam com a palavra amor.

Olhou-se no espelho, talvez pela última vez, como em um exercício de auto-reconhecimento, auto-significação. Parecia que necessitava de algo que o identificasse com um personagem fictício. Pode até ser que, naquele momento, tenha se sentido integrante daquelas velhas narrativas que um dia lera. O fato é que agora, para ele, aquela necessidade estúpida de não apenas se reconhecer, mas de ser reconhecido, era maior do que sentira anos atrás quando passava os olhos pelas últimas páginas daquele romance. Algo havia mudado.
Como se tivesse autonomia para tanto, ele procurou instintivamente o resumo de sua alma, a resposta àquelas perguntas que sempre surgiam em sua cabeça. Descobrira, então, que sua existência era uma visão de alguém que um dia sonhara com seu ser, mas que, até agora, nunca o havia encontrado.