Textos, contextos, momentos, sonhos e realidade. Blog criado para transcrever os posts que por algum motivo esquecemos de publicar na nossa vida.
P.S.: Baseado em fatos reais e/ou em fições.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Acaso

Era uma quarta-feira. Novembro, talvez. Ou melhor... Provavelmente. Nessas alturas eu conhecia muito bem aquele eflúvio, e não me enganaria.
Quanto ao sol? Não sei se já havia se posto, ou se o lusco-fusco era mais uma ilusão de ótica. Como estavam estranhas essas coisas de crepúsculos, poentes, ocasos e acasos em que a vida se punha e desenhava! Pareciam teimar a algo mais, mais forte do que eu queria supor.
Também não me recordo muito bem quais eram as circunstâncias. Contudo, algumas lembranças continuam a martelar na minha memória de bebê-recém-nascido, que sinto ser tão concisa, e ao mesmo tão petulante que me leva a crer e descrer ao mesmo tempo. A confiar e suspeitar.
As lembranças tão ocultas são as que mais me crismaram. Sim. O tempo, as cores; o mais longínquo dos personagens que se podia supor naquele momento. Os olhos, a roupa, e os cabelos. Pretos? Talvez. Somados àquele vulto incolor, eles me trouxeram na memória a possibilidade de conhecer aquela personificação de minhas outras realidades retumbantes. Talvez de meus sonhos. É, vai saber.
Pausa! Preciso mudar a trilha sonora, por que... Por mais que essa lembrança ainda possa ser a divagação em si, continuo acreditando na possibilidade de sonhos virarem realidade.
O que? Como pude supor isso! “Sonhos virarem realidade”. Que pachorra!
Agora entendo! Essa lentidão (sim, lentidão!) resume minha falta de palavras, apenas isso. Não quero acreditar nesses clichês e manifestações como formas de convicção. Sei que, para mim, isso esconde o maior significado. Aquele que, por não “sair”, se agarra com unhas e dentes (ou letras e consoantes) à forma de expressão mais acessível.
Inacessível aos olhos meus.
Está aí a prova de que poderíamos, sim, não estar sonhando.
Ele procurou a forma mais insólita, daquelas que “não estão acontecendo naquele momento”. E eu, pensando não se tratar de algo verdadeiro, caí nas ameaças da razão. Sempre ela! Senti-me num ninho crépido e meus olhos conseguiram ver, finalmente, atrás de mim.
Ele continuava a me fitar com aqueles olhos pretos vagarosos e expirantes. Tive a sensação, por três “fitadas” irracionais, que aquele era o meu momento. Não sei se eu olhava procurando o sentido daquilo em algum ponto convexo dos olhos, e também não sei se ele olhava porque eu continuava olhando. E que jogo! Senti que estaria salva por de trás daquela figura, mas meus olhos me enganaram. Ou não. Só sei que virei aquela esquina, e que até então não sei onde agora ele está.

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